A Psicanálise é uma práxis (teoria + prática) clínica que insiste no desejo do Sujeito. Isto significa que, em uma análise, o percurso é o de proporcionar ao analisando/paciente uma autonomia acerca do seu próprio desejo. Embora isso pareça simples, a complexidade reside no fato de que o desejo existe onde o indivíduo se desconhece, e à isto a psicanálise nomeia o solo do inconsciente. Por que o sujeito desconhece o que deseja? Por que se sente perdido? Porque a entrada do indivíduo na linguagem, isto é, na ordem social, cultural e familiar, requer que haja uma renúncia aos seus desejos verdadeiros, a fim de buscar o reconhecimento social. Dessa forma, o desejo do sujeito fica às margens do inconsciente, daquilo que não pode ser acessado. O indivíduo, que é desde o princípio alienado aos discursos e às normas sociais, culturais e institucionais, vive em função de uma ordem que não é sua, e teme expressar seu verdadeiro desejo, já que foi incitado a acreditar que sua verdade interior não é digna de expressão.
Em uma psicoterapia de orientação psicanalítica, portanto, o trabalho é o de fazer a passagem do desejo de reconhecimento, aquele em que o sujeito reitera sua alienação ao discurso do Outro (cultura, família, instituição), ao reconhecimento do próprio desejo, dando vazão à sua ordem/verdade interna.
É preciso coragem para ser o que se é.